terça-feira, 1 de maio de 2012

Especial Diia Do Trabalho

Em homenagem ao dia do trabalho, trago uma entrevista feita com um ator transformista.. 
Uma linda pessoa, que particularmente eu adoro ..
Enfim confiram mas abaixo a entrevista com Eyshilla Butterfly.


ENTREVISTA: 
Eyshilla Butterfly conta tudo sobre sua vida pessoal,
carreira e polêmicas.



GMAIS: Boa noite Eyshilla, primeiramente nos conte um pouco mais sobre a sua vida, sua infância, relação com seus pais e como se descobriu homossexual?

EYSHILLA: Boa noite, minha infância foi um pouco tribulada, aos dez anos me assumi em casa depois de uma relação homossexual com meu tio, tio não, um primo de meu pai. Tive que me assumir forçadamente, porque fiquei com hemorragia no reto e teve toda uma problemática familiar.
Hoje em dia, essa pessoa tem mais de sessenta anos, ele se dá bem com meu pai, meu pai deixou de falar comigo por causa dessa pessoa, achando ele que eu dei ousadia dessa pessoa fazer isso comigo, por eu já ter trejeitos femininos, meu cabelo natural era grande. Passou essa fase, veio uma fase pior ainda, que foi uma fase de me conhecer como ser humano. Meu pai me colocou para fora de casa com doze anos, mais ou menos. Fui morar na rua, onde me encontrei com drogas, prostituição, fome, miséria. E então passados dois ou três meses nesta situação, minha mãe me viu na rua e me trouxe de volta para casa. Minha infância foi um pouco conturbada, fui preso por esfaquear meu pai, aprontei muito, mas muito mesmo. E então eu caí na real, vi nem tudo que a gente acha é verdadeiro, que Papai Noel não existe, coelhinho da páscoa muito menos. Eu fui vendo que a vida é dura e sofrida, mas que a gente pode ser feliz mesmo assim

GMAIS: Você já sofreu ataque homofóbico? Se já sofreu nos conte como foi.

EYSHILLA: Não vou dizer ataque homofóbico, porque eu sei me defender, seja aqui no teatro ou fora. Mas já sofri violência, no trabalho que faço a noite, onde eu perdi um pouco visão e alguns dentes e pouco da coordenação motora do lado direito. Não sei se você já percebeu, mas eu gaguejo um pouco, falo um pouco com dificuldade, por causa disso.

GMAIS: Como surgiu Eyshilla Butterfly? E por que este nome Eyshilla Butterfly?

EYSHILLA: Eyshilla surgiu há sete anos, na Parada Gay de Camaçari. Eu fazia parte de um grupo chamado Projeto Se Ligue que era vinculado com o GGB. Na época era eu, Valerie O’rarah que na época também estava iniciando e varias outras meninas que queriam se montar para curtir a Parada. Eu pedi a Fabiane Galvão que é a minha madrinha, e que já trabalhava na área a um bom tempo, uma produção. E tinha a necessidade de ter um nome, Butterfly porque eu gosto de borboleta e seria Aisha, porque tinha uma negra em Melhação que tinha um cabelo Black lindo e o meu cabelo é enrolado daquela forma. Eu queria que fosse vinculado o meu nome ao meu personagem, que tinha muito haver com o meu visual na época. Mas depois eu descobri que tinha outra Aisha, que era a Aishy Poltergeist que também batia cabelo. E eu disse não, se já tem uma Aisha não quero ser outra não, então fui fazendo contrações de nomes, até que me veio Eyshilla e eu gostei. Então descobri que Eyshilla é uma cantora evangélica que tinha uma historia de vida muito parecida com a minha e então ficou Eyshilla Butterfly.

GMAIS: O que te levou a investir no trabalho de transformista?

EYSHILLA: Gostar. Aqui a gente não recebe nada em troca, a gente dá muito e recebe muito pouco. 

GMAIS: Como é o processo de transformação? Roupa, maquiagem, cabelo. E a dublagem e performance?

EYSHILLA: Vou falar de uma música que eu gosto muito de fazer que é Live Whith Me de Christina Aguilera, que é uma música em que eu troco de roupa em cena e tem toda uma história. Eu gosto muito da letra da musica, como eu gosto muito da cantora, e o interessante é que quando comecei a fazer é que a historia combinava com o que eu estava passando na época, estava triste e a música fala sobre isso, sair do buraco.  Então eu criei um visual escuro, uma roupa escura e saindo de um buraco, que seria um tubo onde eu troco de roupa, onde volto com uma roupa branca que seria a paz, a mudança. O cabelo, todo mundo sabe que eu uso mega hair, porque eu faço bate cabelo e para mim é mais seguro, porque peruca pode cair. Maquiagem eu aprendi com Valerie O’rarah, vendo ela se maquiar, e é uma pessoa que muito me criticou e até hoje me critica e eu agradeço muito a ela pelas dicas. E então foi assim que foi construída a Eyshilla, eu pego uma musica que tenha haver comigo, conto um pouco da historia da musica e baseado na historia da musica, crio o figurino, a maquiagem e toda cenografia.

GMAIS: Você é conhecida pelo seu bate cabelo, como você passou a praticar esta técnica? O que o publico e os transformistas que trabalham com você acham deste seu tipo de performance?

EYSHILLA: Eu comecei a fazer dança do ventre, eu fazia cover de Shakira, mas Shakira se limita muito a uma musica só que é Ojos Así, então eu tive a necessidade de deste leque de Shakira. Tive que criar um personagem que era mais a minha cara, uma coisa mais agressiva. Como eu sou uma pessoa calma, mas muito mal humorado, quis criar algo mais alegre, porém mais forte e mais sexy. Então Eyshilla se modificou, deixou de ser uma pessoa mais pacata, igual a Fabio que é o meu verdadeiro nome. E eu pensei toda drag é ousada, engraçada, é sexy. E então comecei a fazer, logo na época que lançou bate cabelo em São Paulo, eu disse: “eu quero ser assim, quero fazer igual”. Comecei a fazer vídeos e tentei fazer em casa. Da primeira vez passei mal, vomitei a casa toda [risos]. Já na segunda vez, fiquei um pouco tonta, mas já foi melhor. E assim, fui ensaiando em casa, hoje eu não ensaio mais, vou no improviso mesmo, na cara e na coragem.

GMAIS: Você se considera uma drag ou uma transformista?

EYSHILLA: Transformista. O porquê. Drag tem todo um contexto de figurino e maquiagem, eu não uso maquiagem de drag e meu figurino também não é de drag. Eu tenho alguns roupantes drag, mas eu sou um transformista.

GMAIS: Apesar de ser conhecida pelo bate cabelo, você não faz dublagem apenas de músicas em que você bate cabelo, você acredita que essa diversidade de dublagem contribui aos olhos das pessoas?

EYSHILLA: Sim, porque as pessoas me rotulam muito como drag e eu não sou drag. Eu sou ator transformista e como ator transformista eu tenho que ter um leque de opções, porque eu posso fazer drag em um lugar e uma pessoa não gostar, mas eu também posso fazer uma coisa mais clássica e a pessoa gostar. Para mim é complicado porque eu trabalho com os dois gêneros, ou mais se for o caso. É complicado, mas é gostoso porque eu vou aprendendo cada vez mais. 

GMAIS: Quais são as suas principais influências?

EYSHILLA: Christina Aguilera, ela para mim é uma artista completa. Ela sabe passar todos os tipos de músico. Isso como cantora para eu interpretar. Artista em cena no palco é Mitta Lux pela sua beleza e carisma que ela tem com o publico, coisa que eu não tenho que é carisma com o publico, Fabiane Galvão que foi porque eu comecei a fazer as minhas músicas mais dançantes, dublagem é Valerie O’rarah, sem comparação é Valerie porque se tem uma pessoa que sabe dublar, que sabe fazer um trabalho limpo seriam Valerie O’rarah e Mitta Lux.

GMAIS: Quais os títulos que você já recebeu em concursos?

EYSHILLA: Títulos mesmo, eu tenho Musa Caras & Bocas, que é um bar em Periperi, que eu ganhei em 2010, eu fiquei 2010 e 2011 porque não teve o concurso. Ano passado, em 2011, eu ganhei o Miss Beleza Itaparica, onde esse ano, o dono do concurso faleceu que era Sapoti, uma pessoa maravilhosa. Ano passado também fui Rainha do Carnaval, fui eleita também por quatro anos consecutivos como o melhor bate cabelo de Salvador. Talento Marujo, também em 2011, que teve toda uma problemática com o Ancora do Marujo, que eu não posso mais fazer show lá. Já fui terceiro lugar como dublagem de ouro, em 2010. Miss Salvador, em segundo lugar. Terceiro lugar Miss Mundo, quarto lugar Nações Unidas, quinto lugar Miss Bahia, terceiro lugar Miss Bahia no ano retrasado e por aí vai.

GMAIS: Você é criticada por muitas pessoas, por ser não esconder nada de sua vida. Principalmente por deixar claro que se prostitui, pois a vida de transformista em Salvador não lhe dá retorno. Quando e como você começou a se prostituir? Você acredita que se o trabalho do transformista fosse mais valorizado e respeitado, você não precisaria vender seu corpo?

EYSHILLA: Eu comecei a me prostituir depois que sai de um trabalho como atendente de loja, no centro de Salvador e passei um mês de aperto miserável. Todo mundo sabe que não é por luxar, mas eu não sei andar de ônibus, eu tenho um medo de andar de ônibus, então eu só ando de táxi. Então eu tinha a necessidade de conseguir dinheiro para andar de táxi. Então uma amiga minha que fazia programa no bairro Sete Portas, onde era o meu ponto, me levou como experiência. Fui e gostei, vi que era um dinheiro fácil, mas não é tão fácil assim porque é um dinheiro suado. E estou fazendo até hoje. Em relação à valorização do trabalho como transformista, seria uma boa realmente, mas não deixaria de fazer meu programa porque é uma coisa que eu gosto de fazer. Se hoje eu posso luxar andando de táxi, se eu posso luxar com os meus dois notebooks que estou pagando, porque um eu fui roubada, é com o dinheiro de prostituição. Se eu me alimento bem ou me visto bem de homem ou de mulher é com o dinheiro de prostituição. Tenho meus momentos de tristeza, como todo mundo passa por isso. Pretendo ter meu trabalho certo e digno, apesar de que prostituição é um trabalho digno, porque eu não estou roubando nem matando ninguém. Mas sou uma pessoa que eu penso alto, eu penso muito no meu futuro. Será que o meu futuro vai ser esse? Velho gordo, eu já estou engordando por causa dos hormônios, eu sei que a minha beleza vai acabar. Então eu pretendo sair dessa vida.

GMAIS: Vamos falar agora sobre o espetáculo Soul Transformista, você está no espetáculo desde o inicio. Como foi feito o convite para participar?

EYSHILLA: O espetáculo veio para mim através de um depoimento pelo Orkut por Genilson Coutinho, que é idealizador da peça e queria comemorar os dois anos do site e homenagear a gente que é ator transformista. Veio o convite e eu aceitei numa boa. Foi na livraria Cultura e como a minha apresentação foi o que mais se destacou no dia, eu recebi a proposta de ser o protagonista da peça que seria logo depois e eu aceitei. Eu faria o papel de uma pessoa bobinha que todo mundo humilhava, o que não mudou nada em mim. Porque as pessoas no camarim fazem e acontecem com Eyshilla e no final dá um bum, aparece um mulherão e dá um show, isso na primeira temporada. Na segunda temporada teve uma mudança, que foi no Teatro XVIII, onde queriam mais de mim, queriam que eu entrasse de menino e saísse de mulher. Então eu aceitei, apesar de que eu não gosto de estar de homem na frente de ninguém, nunca gostei de passar Eyshilla como Fábio, mas a proposta que o diretor passou para mim eu aceitei numa boa e hoje em dia se eu pudesse aceitava raspar a cabeça, ficar nu. Estou aqui para isso, sou um grande profissional, acredito nisso não por mim e sim pelo que dizem. O diretor João Figuer e Genilson Coutinho que é dono do site Dois Terços falam sempre que acreditam em meu potencial e no que eu sou capaz de fazer, então estou aberta para fazer tudo isso.

GMAIS: Você sentiu muita diferença entre fazer show em boates e participar de um espetáculo dirigido?

EYSHILLA: Sim, o publico é diferente e a emoção é diferente. Na semana passada, por exemplo, eu estava um pouco adoentado com uma gripe e não pude fazer bate cabelo, tive que fazer uma música mais clássica e tinham duas senhoras sentadas na frente chorando, eu me emocionei de verdade na peça. Então assim, o publico é totalmente diferente, o meio gay é uma miséria, esses viados desgraçados só sabem criticar e apontar as pessoas, é um meio muito ruim, muito sujo.

GMAIS: Nesta terceira temporada, o roteiro mudou mais do que nos outros dois? E como você se sente nesta temporada se apresentando no Espaço Xisto?

EYSHILLA: Mudou sim. Eu vou ser bem direta, todo mundo sabe da minha insatisfação na peça por eu ter que entrar de mulher, depois sair, entrar de homem e sair para depois entrar de mulher. Eu não gosto de aparecer de homem, de jeito nenhum. Mas em relação a profissionalismo, a peça me mostrou que eu sou capaz de fazer tudo que eu pensar em fazer. O roteiro, bobagem, o diretor acha que sou capaz de fazer e eu consegui pegar o texto. Só o que é dificultoso para mim é entrar e sair de homem em cena.

GMAIS: Como é a relação entre você e o pessoal que participa da peça no camarim?

EYSHILLA: Uma miséria, todo mundo pega no meu pé porque eu sou a protagonista da peça e eu tenho que mostrar um bom trabalho, mais do que elas. Peco muito no show, no texto eu sou maravilhosa, minhas entradas em cena são maravilhosas, elas dizem assim, só que no show peco no figurino e na maquiagem. Quando não é nisso é na música. Então é a questão se nós no camarim nos uníssemos e ajudassem nisso, seria ótimo e tudo sairia como elas quisessem. Eu acho que faço um bom trabalho, se não estaria como ator principal da peça. Mas eu tenho que agradecer muito a cinco pessoas da peça. Genilson Coutinho por me dar o espaço, João Figuer por acreditar em mim, as meninas que me apoiam muito, principalmente Valerie O’rarah que me critica bastante, porque é um poço de veneno comigo, mas com ela eu cresço como ser humano e como artista, sem as dicas dela eu não seria porra nenhuma. Também a Scher Marie que foi a primeira pessoa que me colocou no palco, no Âncora do Marujo. Scarleth que para mim é uma amiga filha da puta, para mim Scarleth é uma amiga maravilhosa. Toda a produção do grupo, eu tenho que agradecer e dizer muito obrigado do fundo do meu coração. Queria agradecer também a uma pessoa especial, que sempre acreditou em mim, que é a minha mãe.


IOIÔ.
Qualidade: Engraçada, sou uma pessoa muito divertida.
Defeito: Falar demais, acabo machucando as pessoas, eu sou muito verdadeira com as pessoas.
Sonho: Ser feliz, eu não sou uma pessoa feliz, queria encontrar a felicidade.
Medo: Perder minha mãe, ela para mim é tudo, sem ela eu não seria nada.
Inspiração: Na vida, tem momentos na minha vida que me mostra quem eu realmente sou no palco.
Mico no palco: Logo no inicio quando minha peruca voava longe.

#Entrevista feita ao site GMais.
http://www.gmais.org/2008/07/entrevista-eyshilla-butterfly-conta.html



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